segunda-feira, janeiro 14

NEUROPSICOLOGIA

ASPECTOS HISTÓRICOS DA NEUROPSICOLOGIA

O termo neuropsicologia foi utilizado pela primeira vez em 1913, mas o seu desenvolvimento começou nos anos 40, a partir dos trabalhos de Hebb. Em 1949, este autor propôs uma teoria de funcionamento do córtex cerebral a partir de conexões neuronais modificáveis, isto é, cujas possibilidades de conexão de umas com as outras são múltiplas. Em outras palavras, Hebb propôs uma “teoria para a memória com base na plasticidade sináptica”; esta teoria, em síntese, admite que a transmissão de mensagens entre os neurônios pode ser regulada, não sendo um fenômeno rígido e imutável, mas algo modulável de acordo com as circunstâncias.
Desse modo, o armazenamento de memória não repousaria na modificação das propriedades dos neurônios e tampouco implicaria na presença de circuitos determinados e únicos, mas “o traço mnésico estaria ligado à formação e à persistência de uma rede de conexões entre as células, embora nenhuma delas contenha a informação necessária à restituição da lembrança”. (SANVITO, 1991, p. 89). Atualmente, a teoria de Hebb tornou-se um modelo celular e molecular da memória.

Segundo Luria

"[...] toda atividade mental humana é um sistema funcional complexo efetuado por meio de uma combinação de estruturas cerebrais funcionando em concerto, cada uma das quais dá a sua contribuição particular para o sistema funcional como um todo." (LURIA, 1981, p. 23).

Assim, fica evidenciado que a neuropsicologia, já conhecida como neurociência cognitiva, começou a se desenvolver em meados do século XX numa área de interface entre neurologia e psicologia tendo como objeto de estudo as capacidades mentais mais complexas (como linguagem, autoconsciência, memória) a partir da relação entre o sistema nervoso, o comportamento e a cognição.

Entre os estudiosos que investigaram indivíduos com comprometimento na linguagem decorrentes de lesão cerebral, destaca-se o médico e antropólogo francês Pierre-Paul Broca (1824-1880) e o neurologista alemão Carl Wernicke (1848-1905).

De acordo com Luria (1981), a neuropsicologia é a ciência que estuda a relação entre o cérebro e o comportamento humano.

Em seu surgimento os estudos eram focados nas conseqüências comportamentais causadas pelas lesões cerebrais específicas, entretanto, hoje a neuropsicologia busca investigar as funções cerebrais superiores inferidas a partir do comportamento cognitivo, sensorial, motor, emocional e social do sujeito (COSTA 2006).

Pesquisas realizadas por Aleksandr Romanovich Luria (1981apud Costa, 2006), sobre a organização funcional do sistema nervoso servem e referencia no ensino da Psicologia no Brasil, pois foi através de sua obra Fundamentos de Neuropsicologia, que, pela primeira vez, na década de 1980, se buscou superar a crença na dicotomia mente/corpo na formação dos referidos profissionais. Antes, contudo de se discutir a teoria desenvolvida por Luria, faz-se necessário retomar os primeiros avanços da ciência no estudo das funções mentais.

Segundo Pinheiro (2005), na Idade Média, filósofos já sugeriam a idéia localizacionista ao pensarem nos ventrículos cerebrais como locais onde se situavam as funções mentais. No século XIX, a teoria da seleção natural proposta pelo naturalista Charles Robert Darwin (1809-1882) forneceu subsídios para se pensar a mente como produto do funcionamento do sistema nervoso humano e, a partir da descoberta da estrutura não homogênea do córtex cerebral, passou-se a acreditar que as diferentes funções mentais pudessem estar alojadas nas diferentes porções do córtex. Um dos mais árduos defensores dessa crença foi Franz Joseph Gall (1758-1828), anatomista austríaco, que acreditava que o cérebro era um conjunto de órgãos separados, cada um com diferentes funções.

As assim chamadas faculdades mentais estavam sediadas em áreas cerebrais particulares e distintas, e o grau de desenvolvimento de determinada faculdade era capaz de originar proeminências ou depressões na correspondente região craniana, o que implicava na possibilidade de a partir do formato da cabeça se poder avaliar a personalidade do indivíduo.
Essas idéias deram origem à doutrina frenológica[1] que, embora nunca tivesse uma base científica, serviu e serve, ainda hoje, como argumento de defesa de idéias preconceituosas manifestadas através de expressões como .testa baixa. e .cabeça chata em alusão a pouca inteligência ou rebaixamento intelectual. Tais expressões também se fazem presentes no âmbito da escola contribuindo para inferiorizar o aluno (COSTA, 2006).

A investigação científica das funções mentais teve início em 1861, quando o anatomista francês Pierre Paul Broca (1824-1880) declarou que a partir do estudo do cérebro de pacientes que apresentavam, quando vivos, distúrbios acentuados da fala, que o terço posterior do giro frontal inferior esquerdo era o centro para a memória motora das palavras e que uma lesão nessa área levava à perda da fala expressiva (COSTA, 2006).

De acordo com Costa (2006), essa descoberta abriu novas perspectivas para a pesquisa científica dos processos mentais, pois a partir deste trabalho localizou-se pela primeira vez uma função mental complexa. Além disso, o anatomista francês Pierre Paul Broca (1824-1880) demonstrou pela primeira vez a diferença existente entre as funções dos hemisférios cerebrais direito e esquerdo, referindo-se às funções superiores da fala, comprovando assim “o fenômeno da dominância cerebral, isto é, que na maioria dos seres humanos (99% nos destros e 30 % nos canhotos) os centros da linguagem estão no hemisfério esquerdo” (COSTA, 2006, p. 33).

Dez anos depois das descobertas de Broca, o psiquiatra alemão Carl Wernicke (1848-1905) descreveu casos em que lesões no mesmo hemisfério esquerdo localizadas mais posteriormente ocasionavam a perda da compreensão da fala audível mesmo que em nada afetassem a fala expressiva (motora) (COSTA, 2006).Essas primeiras áreas receberam os nomes de área de Broca e área de Wernicke em homenagem aos seus descobridores.

[1] Este termo (do grego phrén, phrenós = alma, inteligência, espírito) foi cunhado por Johann C. Spurzheim (1776-1832), colaborador de Gall que o ajudou a disseminar suas idéias nos Estados Unidos e na Europa.
Fonte:
JULIÃO, Laurinda Sousa e MAGALHÃES, Sandra de Souza. Importância da avaliação neuropsicológica da criança com crises epilépticas.2007.54f. Monografia(Especialização)Curso Neuropsicologia: aspectos Teóricos e práticos. Faculdade Metropolitna de Curitiba.

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